Acho que a maior parte das pessoas gosta de histórias de amor. Quase todos os filmes, independente do gênero, têm sempre uma história romântica desenrolando no meio da trama. De forma geral pesquisas indicam que os relacionamentos íntimos independentemente das variáveis históricas e sociais, são tidos como fonte de maior felicidade pessoal. Em um mundo mecanizado, robotizado as pessoas buscam o amor íntimo para preservarem sua sanidade mental e para darem equilíbrio as suas vidas. Mas afinal o que é o amor? essa palavra cheia de mistérios e fascínios. Para Stendhal amor é a “maior felicidade do mundo”, Carlos Drummond diz que “amor é bicho instruído”, Camões tentou defini-lo: “amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer...". O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e alimentar as estimulações sensoriais e psicológicas necessárias para a sua manutenção e motivação. Penso que à luz da Psicologia e Análise Transacional o amor pode ser percebido como uma história, os amantes como seus autores, e o tipo de história que escrevem diz respeito as suas personalidades, interesses e afeta seus sentimentos sobre o relacionamento. Algumas pesquisas apontam a confiança como requisito básico para a intimidade e o amor, e esta depende da segurança de vínculos anteriores com pais e cuidadores. Ou seja, a relação que as pessoas tiveram e têm com seus pais pode e geralmente afeta significativamente a forma como elas se relacionam com seus parceiros. A vida dos seres humanos, na maioria das vezes, é orientada para a pessoa receber do pai um abraço que não conseguiu quando criança, de modo incondicional simplesmente pelo fato de ser filho, e existir. Pense sobre isso, sobre sua relação com seus pais, e você encontrará muitas respostas aos porquês das suas falhas nos seus relacionamentos. Há outro quesito imprescindível ao amor: autenticidade. Ser você mesmo é fundamental para atingir a intimidade, elemento básico do amor. A capacidade de identificação também é indispensável para a intimidade e o amor, identificar-se, significa ser capaz de se colocar no lugar do outro. Essa capacidade é a condição para autênticos e fortes sentimentos de amor. Outros autores percebem também o amor como uma função do amadurecimento humano. O amor é para os "maduros", é uma função exclusiva da parte amadurecida da personalidade, assim como a linguagem aparece inata, como potencial, e só se desenvolverá se estimulada pela cultura, o amor é também um potencial inato do ser humano, que pode se desenvolver pela influência do meio ambiente. O ser humano não nasce amando, aprende a amar, para isso, como já vimos, precisamos nos descontaminar das distorções sobre o amor passadas a nós pelos nossos pais. Fechando essa análise acrescentaria o que Berne coloca como a palavra chave que impede a intimidade e o amor e todo o bem estar que este pode proporcionar. Berne diz que essa palavra é o “mas”. O “mas” de acordo com ele opõe mais obstáculos ao amor do que qualquer outra palavra e em segundo lugar a expressão “se ao menos” que se coloca também como obstáculo ao amor. O “mas” repudia o aqui e o agora e o “se ao menos” afasta-o para outro lugar ou deixa-o para mais tarde. “Mas” significa apreensão pelo futuro e “se ao menos” significa desapontamento com o passado. Para viver o amor é necessário que se esqueçam todas as formas de equívoco: papéis equívocos que aprendemos com nossos pais, pessoas equívocas que passaram em nossas vidas, e coisas equívocas na cabeça. O amor talvez precise, portanto de um último elemento: a fé que supõe deixar de lado o “mas” e o “se ao menos” e viver o amor sem reservas acreditando nele como uma escolha possível e necessária. Complementando com a contribuição da Querida Cássia deixo a definição de amor de Antoine Saint-Exupéry citada por Léo Buscaglia "...Talvez o amor seja o processo de eu conduzi-lo delicadamente de volta a si. Não para quem eu quero que você seja, mas para quem você é..."
Mais uma vez voltamos ao conselho do filósofo, para viver o amor: "Conhece-te a ti mesmo."
Referências:
AMARO, Jorge W. F. Mal estar e amor. São Paulo: Revista de Psiquiatria Clínica, n. 33, 2006.
BERNE, Eric. 1910-1970. Análise Transacional em Psicoterapia: tradução de Lúcia Helena Cavasin Zabotto. São Paulo: Ed. Sumus, 1985.- _______, Eric. Os Jogos da Vida – e a análise transacional nas relações entre as pessoas. 2. ed. Rio de Janeiro : Artenova, 1974.
- COLASANTI, Marina. E por falar em amor. Rio de Janeiro: Editora Rocco, LTDA, 1984.
- HERNANDES, J. A. E. & OLIVEIRA, I.M.B. Os componentes do amor e a satisfação. Brasília: Psicologia: ciência e Profissão, 2003.
- PAPALIA, Diane E, OLDS, Sally W. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artes Médicas Sul. 2000. 684 p.
- STENDHAL. Do amor. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Lindo o texto querida!
ResponderExcluirQue Deus te abençoe e ilumine cada dia mais...Bjus.
Muito bom!!
ResponderExcluir